Eis um artigo que nos achamou a atenção - As feministas estão de volta à luta. Décadas depois dos protestos pela libertação sexual, nos anos 1960, e mais de um século depois da campanha pelo direito ao voto – causas que uniram gerações inteiras de mulheres –, um feminismo novo e multifacetado está emergindo dos blogs e redes sociais. Muitas das novas militantes são mulheres jovens, educadas na era digital, que passaram a juventude inteira ouvindo dizer que homens e mulheres já tinham direitos iguais. Com a chegada à vida adulta e ao mercado de trabalho, elas depararam com inúmeros sinais de que a igualdade entre os sexos ainda é uma ilusão – e decidiram organizar-se para fazer algo a respeito. Alguns especialistas já descrevem esse fenómeno como o surgimento da quarta onda feminista, para diferenciá-lo dos três outros grandes momentos do feminismo no século XX. Há até quem tenha trocado a palavra “feminismo” por “feminismos” – assim mesmo, no plural. Em vez de formar um movimento único, como no passado, as novas feministas formam vários grupos distintos. As suas causas muitas vezes são semelhantes, mas cada um tem a sua visão de feminismo e a sua estratégia para buscar mais igualdade. As novas feministas têm diferentes formas de protestar. Ex-líder do Femen no Brasil, Sara Winter é uma das radicais. Desde o surgimento do grupo na Ucrânia, em 2008, as passeatas usam a nudez para chamar a atenção da mídia – e muitas vezes terminam com as integrantes na polícia. O grupo já promoveu manifestações diante de templos religiosos, como mesquitas, ou símbolos públicos, como sedes de governos e embaixadas. Sara, que acaba de criar um movimento próprio, com base no Femen, o Bastardxs, acredita no poder do corpo como instrumento de protesto. “A gente choca por meio da nudez descontextualizada”, diz Sara. A Marcha das Vadias, movimento que surgiu em 2011 no Canadá, também usa o espaço público das ruas para seus protestos. Nas marchas, repletas de cartazes com palavras de ordem, há nudez, mas não é obrigatória. “Até homens podem marchar, mas o comando é sempre das mulheres. A única regra é essa”, diz uma integrante da Marcha de São Paulo, que não se quis identificar.
O despertar de um novo feminismo na internet também deu voz a outros grupos, que o movimento feminista tradicional não representava. É o caso do transfeminismo, uma corrente que defende o fim da discriminação não só contra as mulheres, mas também contra as pessoas que não se identificam com comportamentos ou papéis esperados para pessoas do seu sexo. Entre os grupos incluídos na corrente estão os transexuais (aqueles que têm o desejo de viver e ser aceitos como alguém do sexo oposto) e os transgêneros (desde quem se identifica com o gênero oposto até quem se considera parte homem e parte mulher). “Hoje, não é possível ser aquela feminista que só pensa nos direitos das mulheres”, diz Lola. “É preciso debater os direitos de todos.” Uma das ativistas mais importantes da atualidade é a cantora pop americana Amanda Palmer. Ela acredita que o debate político sobre o feminismo não funciona e, por isso, prefere chamar a atenção do mundo para o tema com performances ousadas – geralmente envolvendo nudez – e letras sobre medos e emoções femininas. Amanda também se dedica a criticar a exposição do corpo da mulher como objecto do prazer masculino nos meios de comunicação. A sua vítima mais recente foi o jornal britânico Daily Mail, que publicou a foto de seu seio “fugindo” do sutiã num show. Em resposta, Amanda ficou totalmente nua em outro concerto – e interpretou uma canção que satirizava o jornal. “Mulheres jovens estão finalmente a ser reeducadas a respeito do que o feminismo significa e que a coisa mais importante é lembrá-lhes de que a batalha nunca foi vencida”, afirma Amanda.
ONDA FEMINISTA DO SÉCULO XXI
O uso de ferramentas tecnológicas como sites de vídeos e redes sociais é uma das principais características do novo feminismo. Os estudiosos do movimento feminista costumam dividir a sua história em três grandes etapas – cada uma delas caracterizada pelas suas bandeiras e pela incorporação de novos desafios. A primeira onda, no início do século passado, foi marcada pela luta da conquista do poder político, especialmente o direito ao voto. A segunda onda, da década de 1960 até a década de 1980, lutou pelo fim da discriminação e pelo fim de uma estrutura de comando em que somente os homens tinham acesso ao poder. A terceira onda feminista teve início a partir da década de 1990 e contestou as omissões do movimento anterior. Combatia as definições da mulher típicas da segunda fase, que se baseava apenas nas experiências das mulheres brancas de classe média alta americanas e britânicas. Atualmente, especialistas discutem ainda se estaríamos diante de uma quarta fase do feminismo, definido pelo uso das tecnologias para construir um movimento popular forte, reativo e multifacetado na internet. A nova onda incentiva as mulheres a perceber que a desigualdade não é um problema individual, mas colectivo – e, por isso, precisa de soluções políticas. Outros especialistas discordam da existência da quarta onda feminista e afirmam que o aumento do uso da internet não seria suficiente para delinear uma nova era. Os novos feminismos seriam uma continuação da terceira onda.
Num ponto, todos concordam: o feminismo de fato deixou de ser um movimento único para dar lugar a grupos fragmentados. A mudança é vista como algo natural. “Seria louco juntar todas as mulheres num único movimento, dada a diversidade de suas necessidades e experiências”, afirma a escritora feminista americana Naomi Wolf. Isso não significa que o feminismo tenha se enfraquecido. Pelo contrário: “
O feminismo do século XXI multiplica-se em várias tendências. E usa a tecnologia digital para difundir a ideia de que a igualdade entre os sexos ainda é uma ilusão um trabalho de GRAZIELE OLIVEIRA, COM JÚLIA KORTE ( 2014).
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