EMOÇÕES NO FEMININO

EDUCAÇÃO VERSUS PROGRESSO

Setembro é um mês muito agitado na nossa capital. Uma capital cheia de problemas, como sabemos. Muitos dos problemas resultam da nossa falta de preparação. Na verdade, a educação dos cidadãos é muito importante para o desenvolvimento de qualquer país. Pessoas impreparadas obstaculizam o desenvolvimento sem terem noção disso. Reagem emotivamente, pensam que estão a fazer o melhor pelas suas vidas, enquanto se atolam em doenças e complicações e aumentam as suas dificuldades de acesso aos bens e serviços. Como perceber que as pessoas de parcos recursos sejam roubadas por jovens que pululam pelos bairros?  Como entender que em qualquer recanto da periferia onde haja um terreno se coloquem blocos e chapas de zinco, a que uma imprensa chama logo de residências, quando as autoridades aparecem? Como perceber que nos hospitais as enfermeiras cobrem 15.000 kwanzas por uma transfusão de sangue, a pessoas sem recursos, deixando o doente a morrer por falta desse precioso líquido? Pessoas preparadas entendem as mensagens de prevenção. Pessoas reparadas não se expõem vendendo os seus produtos na rua, no meio do trânsito infernal da capital. Pessoas preparadas cuidam da higiene nas suas vidas. Muitos pensadores já se debruçaram sobre as questões relacionadas com a educação, nomeadamente das crianças. Sem nos darmos conta estamos a reproduzir comportamentos negativos que vão retardar o nosso desenvolvimento. O foco deve estar sobre os educadores, professores e pais. A criança só pode conhecer o dever através de seus pais e mestres. É preciso que estes sejam para ela a encarnação e a personificação do dever. Isto é, que a autoridade moral seja a qualidade fundamental do educador. A autoridade não é violenta, ela consiste em certa ascendência moral. Liberdade e autoridade não são termos excludentes, eles se implicam. A liberdade é filha da autoridade bem compreendida. Pois, ser livre não consiste em fazer aquilo que se tem vontade, e sim em se ser dono de si próprio, em saber agir segundo a razão e cumprir com o dever. E justamente a autoridade de mestre deve ser empregada em dotar a criança desse domínio sobre si mesma. Palavras de um dos pensadores muito influente nestas questões de educação (DURKHEIM, 1973:47). O tema educação é nos muito caro, e deve ser também para toda a gente. Sem esse conceito, não progredimos. Todos os dias nos queixamos, nos lugares públicos, no estacionamento, no trânsito, nada na vida se faz sem educação versus respeito. Não podemos perder de vista estes valores. A olho nu a nossa sociedade parece não ter regras. As noticias que nos chegam dão conta de muitas coisas vão mal. Assaltos, violência contra donos de restaurantes, muita prostituição que agora se chama game; muitos pedintes na rua; muitos roubos inclusive da autoria de jovens licenciados. Enfim temos noticias de tudo o que é mau, nas redes sociais sobretudo. No Jornal o Pais lemos o que uma leitora escreveu e que pode servir de exemplo para aquilo que corre mal. “No Lubango anda muita gente pelas ruas sem fazer nada, ficam nas praças e jardins a incomodar quem passa. Alguns nem são angolanos. Os jardins da Sé Catedral, nem dá gosto por ali ficar. Poderia ser, como se vê na televisão dos outros países, com esplanadas e animação, mas não, estão lá os que vendem relógios falsos e feitiços. Também no jardim ao lado da maternidade e no que fica perto do Governo é a mesma coisa. As montras no Lubango, não dá gosto olhar, são feias. E também não dá gosto andar pela cidade. Aos fins de semana é só ficar em casa porque aí, se andares são só dores no corpo de tantos buracos. Não temos passeios. É uma tristeza mito grande. Espero que os nossos dirigentes leiam o jornal para verem como o povo se sente, não está nada bom. Uma leitora do Lubango queixando-se do estado da cidade. Estas queixas podem generalizar-se a todas as cidades do país. E o que é que isto tem a ver com a educação e com o respeito, perguntam os ouvintes. Tem a ver sim. Tem a ver com aquilo que vemos e sentimos. Para muitos cidadãos o estado de degradação dos seus locais de habitação, não os afecta. Tal como estado das suas próprias casas. Basta entrar num apartamento no centro de Luanda, para ser ver que ali não há quaisquer condições de habitabilidade. As sanitas partidas as portas arrancadas, tudo desfeito, e no entanto, os seus habitantes ao saírem para a rua podem vir cheios de marcas nas suas roupas e sapatos. Esse deixa andar é tão pernicioso a nível pessoal como colectivo. Reflecte-se na cidade e muitas vezes não é visível na repartição porque há quem tenha bons hábitos e se ocupe da limpeza e arrumação. A leitora falava da falta de passeios. Isso é comum em Luanda e quando há, está cheio de sofás velhos onde se deitam os seguranças dos bancos. Como a leitora diz é preciso chamar a atenção das autoridades. Deve-se começar por algum lado. Nos adultos a coerção educa. Arrumar uma cidade é dizer aos cidadãos – agora está nas vossas mãos. Agora cuidem dela e quem estragar paga. Organizar e não impor disciplina é perder tempo e dinheiro.


Luísa Fançony | Directora Geral
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Morada:

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Apresentação do livro de MARIA CELESTINA FERNANDES


Mal cheguei a Luanda depois de umas merecidas férias, recebo uma chamada e um convite. Ainda tentei argumentar a minha falta de preparação para estas coisas, o meu estado de saúde, mas a minha amiga Celestina não me deu tempo. Nem que eu lhe dissesse que estava adoentada. É uma coisa simples, nada de discursos.
Se é simples para ela é complicado para mim. Mas aqui estou para vos falar da mais recente obra de Maria Celestina Fernandes. Uma escritora que desde os anos 80 se dedica à literatura infanto-juvenil, baseando-se na natureza, no conhecimento do processo de desenvolvimento da criança, e na realidade angolana, tem vindo a publicar várias obras. Maria Celestina é uma voz permanente, que nos convida a contar estórias às nossas crianças.
Hoje estamos aqui para conhecer o livro A DISPUTA ENTRE O VENTO E O SOL E OUTRAS HISTÓRIAS. Um livro com ilustrações de Filipe Goulão e que é dedicado às netas Josemary e Makiese e a todas as crianças com características especiais.
O livro tem quatro estórias e ao lê-las vêm-nos à memória outras estórias universais, que marcaram a nossa infância e que procurámos transmitir às crianças da nossa família. A grande vantagem destas estórias é que elas nos são próximas. E aqui lembrei-me do poema de Agostinho Neto, Na pele do tambor. Que história é essa da lebre e da tartaruga, que contas neste novo ritmo de fogueira à noite minha avozinha de pele negra de África?  Maria Celestina coloca hoje mais uma pedra nos alicerces da nossa vida enquanto educadores: um livro com estórias nossas. O pano de samacaca da Catonha, e  a formiga que nasceu sem cor, por exemplo, remetem-nos para um acessório que agora toma foros de moda, o turbante e para, a sempre presente necessidade de aprendermos a respeitar quem é diferente de nós.
Não é a primeira vez que o sol tem destaque numa estória de Celestina Fernandes. “Era uma vez um rapazinho que um dia desejou possuir o sol. Se alguma vez olharem para o céu, a hora do pôr do sol; se por acaso descobrirem qualquer coisa, lá em cima, que lembre um menino. Pois, não se esqueçam que esse menino pode bem ser um Hossi!...Extractos do conto "A Bola de Fogo" In: A Árvore do Gingongos, 1993,p.17.
No primeiro conto temos uma intenção maldosa do vento. Não sei de que é que os meninos que estão aqui, gostam mais do vento ou do sol?
Acho que o sol ganha sempre, sobretudo no nosso país, onde o sol é uma bênção que nos torna pessoas, alegres e que dão a volta por cima. A Catonha é uma menina alegre e o pano de samacaca que leva nos ombros dá-lhe essa sensação de segurança, por isso mesmo o invejoso do vento, quer arrancá-lo
Esta estória leva-nos a pensar nas coisas que devemos cultivar. Eu  por exemplo, se fosse estilista, insistiria numa bela colecção de panos, ensinando a pô-los aos ombros, na cabeça e à cintura. Não sei porque havemos de usar casacos e não um pano.
A segunda estória é em verso. E leva as crianças a considerarem as diferenças uma coisa normal. Formigas branca e vermelha – por onde passavam, todos admiravam o par, porque se tinham convencido, que o mundo é feito de contrastes. De diversas cores, formas e pensares, merecendo cada qual, igual respeito e aceitação.


A história que mais me fez pensar, foi a da União Arco Iris. Já fiz parte de um grupo de Carnaval do tipo arco-íris. Dentro da perspectiva de olhar para todos com o mesmo respeito um grupo de carnaval diferente, não conseguiu reunir em torno de si, todas as boas referências, que ele trazia. E como out sider, saiu da circulação. O grupo União Arco-Iris ganhou o Carnaval, e o presidente do Juri, era um macaquinho simpático, que teve que enfrentar a fúria dos outros grupos que também queriam ganhar. Só que o macaco fez tantas palhaçadas que vencedores e perdedores acabaram por soltar largas gargalhadas. No nosso país aprendemos a ganhar e a perder. É um exercício bem difícil e quem tem crianças sabe que aquelas que perdem as brincadeiras, amuam. Os educadores devem cuidar desde logo desta questão, para que em adultos não prejudiquem um grupo, ou uma sociedade por não saberem perder, como infelizmente acontece muito no nosso continente.
A última estória é muito séria leva-nos aos problemas das madrastas. Kimba fica sozinha, perdida e é ajudada, primeiro por uma cabrinha e depois por um pirilampo.
A autora reflecte os problemas da nossa sociedade, mas não faz imposições. As situações e as personagens surgem naturalmente, e a leitura faz-se de forma corrida, sem muitos entretantos.
A obra está à vossa disposição e disfrutem da leitura com as crianças mais pequenas, que vão interromper muitas vezes para verem as imagens, que são muito bonitas.
Maria Celestina os meus parabéns e desculpa se ainda fui mais simples do que aquilo que esperavas.











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