Apresentação do livro de MARIA CELESTINA FERNANDES


Mal cheguei a Luanda depois de umas merecidas férias, recebo uma chamada e um convite. Ainda tentei argumentar a minha falta de preparação para estas coisas, o meu estado de saúde, mas a minha amiga Celestina não me deu tempo. Nem que eu lhe dissesse que estava adoentada. É uma coisa simples, nada de discursos.
Se é simples para ela é complicado para mim. Mas aqui estou para vos falar da mais recente obra de Maria Celestina Fernandes. Uma escritora que desde os anos 80 se dedica à literatura infanto-juvenil, baseando-se na natureza, no conhecimento do processo de desenvolvimento da criança, e na realidade angolana, tem vindo a publicar várias obras. Maria Celestina é uma voz permanente, que nos convida a contar estórias às nossas crianças.
Hoje estamos aqui para conhecer o livro A DISPUTA ENTRE O VENTO E O SOL E OUTRAS HISTÓRIAS. Um livro com ilustrações de Filipe Goulão e que é dedicado às netas Josemary e Makiese e a todas as crianças com características especiais.
O livro tem quatro estórias e ao lê-las vêm-nos à memória outras estórias universais, que marcaram a nossa infância e que procurámos transmitir às crianças da nossa família. A grande vantagem destas estórias é que elas nos são próximas. E aqui lembrei-me do poema de Agostinho Neto, Na pele do tambor. Que história é essa da lebre e da tartaruga, que contas neste novo ritmo de fogueira à noite minha avozinha de pele negra de África?  Maria Celestina coloca hoje mais uma pedra nos alicerces da nossa vida enquanto educadores: um livro com estórias nossas. O pano de samacaca da Catonha, e  a formiga que nasceu sem cor, por exemplo, remetem-nos para um acessório que agora toma foros de moda, o turbante e para, a sempre presente necessidade de aprendermos a respeitar quem é diferente de nós.
Não é a primeira vez que o sol tem destaque numa estória de Celestina Fernandes. “Era uma vez um rapazinho que um dia desejou possuir o sol. Se alguma vez olharem para o céu, a hora do pôr do sol; se por acaso descobrirem qualquer coisa, lá em cima, que lembre um menino. Pois, não se esqueçam que esse menino pode bem ser um Hossi!...Extractos do conto "A Bola de Fogo" In: A Árvore do Gingongos, 1993,p.17.
No primeiro conto temos uma intenção maldosa do vento. Não sei de que é que os meninos que estão aqui, gostam mais do vento ou do sol?
Acho que o sol ganha sempre, sobretudo no nosso país, onde o sol é uma bênção que nos torna pessoas, alegres e que dão a volta por cima. A Catonha é uma menina alegre e o pano de samacaca que leva nos ombros dá-lhe essa sensação de segurança, por isso mesmo o invejoso do vento, quer arrancá-lo
Esta estória leva-nos a pensar nas coisas que devemos cultivar. Eu  por exemplo, se fosse estilista, insistiria numa bela colecção de panos, ensinando a pô-los aos ombros, na cabeça e à cintura. Não sei porque havemos de usar casacos e não um pano.
A segunda estória é em verso. E leva as crianças a considerarem as diferenças uma coisa normal. Formigas branca e vermelha – por onde passavam, todos admiravam o par, porque se tinham convencido, que o mundo é feito de contrastes. De diversas cores, formas e pensares, merecendo cada qual, igual respeito e aceitação.


A história que mais me fez pensar, foi a da União Arco Iris. Já fiz parte de um grupo de Carnaval do tipo arco-íris. Dentro da perspectiva de olhar para todos com o mesmo respeito um grupo de carnaval diferente, não conseguiu reunir em torno de si, todas as boas referências, que ele trazia. E como out sider, saiu da circulação. O grupo União Arco-Iris ganhou o Carnaval, e o presidente do Juri, era um macaquinho simpático, que teve que enfrentar a fúria dos outros grupos que também queriam ganhar. Só que o macaco fez tantas palhaçadas que vencedores e perdedores acabaram por soltar largas gargalhadas. No nosso país aprendemos a ganhar e a perder. É um exercício bem difícil e quem tem crianças sabe que aquelas que perdem as brincadeiras, amuam. Os educadores devem cuidar desde logo desta questão, para que em adultos não prejudiquem um grupo, ou uma sociedade por não saberem perder, como infelizmente acontece muito no nosso continente.
A última estória é muito séria leva-nos aos problemas das madrastas. Kimba fica sozinha, perdida e é ajudada, primeiro por uma cabrinha e depois por um pirilampo.
A autora reflecte os problemas da nossa sociedade, mas não faz imposições. As situações e as personagens surgem naturalmente, e a leitura faz-se de forma corrida, sem muitos entretantos.
A obra está à vossa disposição e disfrutem da leitura com as crianças mais pequenas, que vão interromper muitas vezes para verem as imagens, que são muito bonitas.
Maria Celestina os meus parabéns e desculpa se ainda fui mais simples do que aquilo que esperavas.











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