CRÓNICA

CRÓNICA PEQUENINA
Luanda 1992

Marquei dez minutos no meu tempo, para escrever sobre o tema final
Será também o tema finaI do meu primeiro período de trabalho … depois
vou para outros temas, que não são escritos …não ficam escritos
em parte alguma … ponho avental e tenho poucos minutos para fazer o
que falta …. mas os meus dez minutos de hoje, desta manhã de dezembro, são para escrever para uma coisa que só vou ler à noite
Será que o homem das sandálias de couro …chega de madrugada, mancando o
quarto com perfume? A que horas chegará ele?
E fico a pensar como é que umas sandálias de couro podem inspirara tão belo poema? Falo do poema da Paula Tavares
E paro para pensar…  os minutos passam… e eu penso se poderia sem
nunca ter visto o homem das sandálias de couro, fazer-lhe algum "poema…
E penso se existem os homens e as coisas que são faladas nos poemas…
ou se os poetas inventam… Mas sandálias são sandálias e laranjas são
laranjas …são coisas que existem. E poemas não são palavras arrumadas
mas são a expressão de sentimentos de inspiração, de apreensão das coisas
que os outros não sentem…
Desisto! Em dez minutos não-posso escrever sobre poemas e poetas, tanta sensibilidade, porque esqueço e me perco a ver as pessoas e as coisas no sentido prático da vida, e a cozinha está à minha espera e o meu amado que não usa sandálias, divide as horas,  o salário  as arrelias e os prazeres comigo, também. Vou deixar para logo talvez de madrugada eu possa dizer mais coisas sobre uma mulher que escreve sobre pessoas e as coisas para elas ficarem bonitas, destacadas e belas
“o meu amado, chega e enquanto despe as sandálias de couro
marca, de perfume as fronteiras do meu quarto
Solta a mão p’ra criar barcos sem rumo no meu corpo
Planta árvores de seiva folhas. Dorme um pouco sobre
o cansaço embalado pela leveza da esperança.
Divide comigo as laranjas… e os intervalos da vida
Então parte.  Deixa, perdidas as belas sandálias de couro.   

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