FUI AO CINEMA

A RAINHA KATWE

Hoje fui à ante estreia do filme. Penso não ter ido ao cinema em Angola, há mais de quarenta anos. Na minha meninice ia às matinées no Cine Teatro de Silva Porto. Aí vi a maior parte dos filmes da época, pelo menos os que eram para menores de dezoito anos. Depois disso fui ao cinema muito poucas vezes em Angola. Hoje fui ao cinema. A um complexo muito bonito e a uma sala grande e confortável. Não faltaram as pipocas, aquelas que afastaram definitivamente o meu marido das salas de cinema no exterior do país. No meu programa AFRIKHYA tinha reproduzido a opinião de Sousa Jamba sobre o conteúdo do filme e depois de saber que ele seria exibido em Angola, fui ver o que se dizia dele em alguns sites. A Helena Casimiro que tem estado emprestada à rádio e faz com outros jovens o MATABICHO DE DOMINGO, foi a grande impulsionadora da presença do filme entre nós. Ela diz que se sentiu motivada por várias razões e uma delas o facto do filme ser da Disney que sempre nos deu a ver a beleza das princesas loiras e brancas e que na Rainha do Katwe mostra uma África vencedora e uma “princesa” de carrapitos na cabeça. Não se pode dizer que o filme mostre um conto de fadas negras. O drama da vida de uma família monoparental alterna momentos de sucesso da protagonista com os desaires de quem é pobre e vive em condições muito precárias. Ainda me doem os olhos, de deixar tanta lágrima aflorar e lutar para que não escorresse pelo rosto abaixo. Algumas cenas tocam até os corações mais empedernidos. Eu, com a idade, emociono-me com um olhar, com uma palavra. O filme mostra a pobreza de uma povoação de Harare onde vive Phiona, mas mostra também os colégios da cidade com os meninos bem. Mostra a violência da extrema pobreza de onde sai Phiona, com uma mãe vendedora de milho e principalmente a tenacidade do treinador, um engenheiro que trabalha para o estado e recusa um bom salário no privado para poder ficar com os seus “pioneiros”. O filme mostra um pouco de tudo o que acontece em qualquer parte do mundo. Prostituição, sedução, lixo, as desgraças provocadas pela chuva, uma gravidez indesejada, nada foi poupado ou embelezado. Concordo com Sousa Jamba que destacou o papel do engenheiro na sua crónica LIDERES QUE SONHAM falou do filme rodado no Uganda e na África do Sul com o nome RAINHA DO KATWE. O jornalista colocou ênfase na liderança do jovem engenheiro que apoiado por uma igreja tenta organizar os jovens daquele bairro pobre ensinando-lhes xadrez. Graças à liderança deste treinador que motiva os jovens do ghetto ugandense, o mundo passou a saber de uma das maiores fraquezas que o continente africano vai enfrentando o desafio de mobilizar e organizar o capital humano. O poderio do continente africano está no talento do seu povo. Lideres como o engenheiro do filme não se conformam com o status quo. Eles sonham e dedicam as suas vidas mobilizando as pessoas para a realização desses sonhos. Ao assistir hoje à projecção do filme constatei que ele tem razão. Para mim também o herói é o engenheiro, o treinador de Phiona e do irmão.

 

 

 

 

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