EMOÇÕES NO BRASIL

Depois de alguns dias no Brasil, num momento muito especial, retomamos este nosso monólogo das tardes de quinta-feira. Viajar é preciso. Nós tentamos responder a esta afirmação antiga de um tema musical ligado ao Brasil. Para os turistas o ambiente estava tranquilo. Uma conversa aqui e outra ali, uma boa opinião aqui e outra ali contrária, sobre os dois candidatos, era tudo o que se ouvia. Visita obrigatória ao Corcovado, e a outros pontos turísticos do Rio e um tour à Foz de Iguaçu, às suas catarata e barragem de Itaipu com um tempo chuvoso e um ambiente alegre numa caravana de cerca de 15 pessoas, bem-dispostas, com aquele humor que só a idade permite e o à vontade de quem não deve nada a ninguém e viaja com os seus próprios meios. Estas caravanas com objectivos definidos são muito interessantes – ir a um congresso de salsa, a um jantar da Academia do Bacalhau ou a um torneio de ténis para veteranos, tem um sabor especial e os resultados são sempre muito bons – não os desportivos, no caso do ténis sénior, onde a delegação angolana joga como nunca e perde como sempre.  Atendido por amigos brasileiros, ou contactando os funcionários dos locais visitados, nota-se muita cortesia. Há um tratamento que parece normal, onde se percebe gentileza e até educação, algo que não parece circunstancial, mas rotina. O Brasil é um país de turismo e quem se ocupa dele, deve receber uma preparação adequada. As situações de violência devem ter sido registadas durante a nossa estadia. Lamentavelmente muita gente deve ter tido o azar de estar no local errado, na hora errada. Para a nossa caravana estendeu-se um manto de paz e de alegria. Nem Bonsonaro nem Haddad, salvaguardadas as devidas distâncias, nos preocuparam. A propósito disso um editorial da revista Época do dia 29, defini-os como o roto e o esfarrapado.  De regresso ao país, o voo introduz-nos nas nossas malambas. O entretenimento não funciona e a mesa não entra na ranhura que tem algo descolado no seu interior. E começamos a pensar logo nas coisas que não funcionam. Voltamos àquilo que não funciona, porque não tem manutenção. Mas voltamos aos nossos afazeres. Porque somos mais velhos, mas temos as nossas ocupações.

 

Luisa Fançony

Directora Geral

luisa.fancony@lacluanda.co.ao
Tlm: +244 912 510 946

 

 

 

COMO A DEMOCRACIA CHEGA AO FIM

 

Na sequência da eleição do presidente do Brasil abrem-se muitas discussões sobre a democracia, a extrema direita, extrema esquerda. O professor de política da Universidade de Cambridge David Runciman diz que a extrema-direita de hoje não pode ser comparada com o que se passou tempos atrás. Ele não acredita que estejamos prestes a ver uma repetição do fascismo no Brasil. As nossas sociedades são mito diferentes das que existiam há cem anos atrás. Somos mais maduros e mais conectados. As nossas instituições estão a ser testadas de outra maneira e temos recursos diferentes para reagir. Ele acha que corremos o perigo de acreditar no falso alarme de que a extrema-direita pode repetir os mesmos erros dos anos 1930. Isso não vai acontecer. Devemos temer a crescente intolerância e o esfacelamento das nossas políticas, mas não devemos enganar-nos acreditando que já vimos isso acontecer. Nada  na política dura para sempre. Pensar no fim da democracia é estar aberto, porque por definição o futuro é mias aberto que o passado. Um erro que cometemos é definir a democracia com parâmetros do passado. Estamos presos a instituições ultrapassadas e não sabemos como alterá-las. Tratar a democracia como algo intocável é uma das causas do seu enfraquecimento. Usamos métodos antigos para encontrar novas opções. Isso significa que escolhemos políticos que usam os mesmos métodos, mas se apresentam como novos. O professor diz que isso ocorreu com Brexit e com Trump. Os eleitores procuram novas alternativas respaldando-se em fundamentos antigos o que leva a uma grande frustração e se pode tornar um círculo vicioso. Temos de salvar a democracia, ser mais criativos, mais imaginativos e não pensar que a próxima eleição vai resolver os nossos problemas. Professor David Runciman e as suas opiniões expostas no livro COMO A DEMOCRACIA CHEGA AO FIM.  E nós que exercitamos a democracia há tão pouco tempo e que transplantamos para aqui o pacote completo de eleições livres, com partidos políticos, imprensa livre, programa de políticas nacionais escolhas entre a direita e a esquerda.

O tema democracia é naturalmente aliciante, numa época em que se diz que os países estão a virar à direita. Infelizmente os partidos de esquerda, com teorias fantásticas tiveram uma actuação ligada à prepotência, à corrupção o que, por exemplo no Brasil, levou a que o candidatado do PT “purgasse nas urnas os erros políticos, económicos e de moralidade cometidos por companheiros de jornada.” Democracia tem muito a ver com o social que é foco desta conversa às quintas. Mas a democracia pode chegar ao fim se não conseguirmos mudá-la. Desde o fim da Segunda Guerra, o triunfo da democracia parecia incontornável. Hoje, contudo, ela vê-se ameaçada, mesmo nos países onde é mais estável. Como chegamos a essa situação? David Runciman argumenta que estamos presos ao passado. Ao nos concentrarmos no fascismo e nos golpes de Estado como as principais ameaças, miramos os alvos errados. As nossas sociedades são complexas demais para colapsar da mesma maneira. Precisamos de novos modos de pensar o impensável — uma visão do século XXI sobre o fim da democracia, e se a sua derrocada nos permitirá avançar em direção a um modelo melhor. Livro provocador, faz as perguntas fundamentais para a compreensão de nossa vida política contemporânea.

 

 

Luisa Fançony

Directora Geral

luisa.fancony@lacluanda.co.ao
Tlm: +244 912 510 946

 

 

 

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