EU NÃO QUERO SER A MALOGRADA.
A moda das palavras é muito interessante no nosso país. Alguém com poder de expressão usa um vocábulo e ele passa imediatamente a fazer parte do léxico nacional e é utilizada em qualquer circunstância. De heróis, os angolanos depois de mortos passam a pessoas cujos projectos se malograram. Como se em vida não tivessem conseguido obter qualquer sucesso - malograram. Os seus planos goraram-se, não tiveram êxito. Todos - um conjunto de frustrados.
De cada vez que ouvimos essa expressão, ficamos revoltados. Como é possível uma professora que toda a gente admira, que formou dezenas e dezenas de cidadãos, ser apelidada de malograda, quando se fala dela? Dir-nos-ão que a palavra também designa quem teve um fim prematuro. O fim de uma pessoa, por mais idosa que ela seja é sempre, para quem a ama, prematuro. Mas no que toca à classificação do que ela foi em vida prematuro em relação a quê? À sua idade, ao projecto que tinha em mãos, ao futuro promissor que todos pensavam ser certo e que se vê frustrado, sim na verdade, nesse caso trata-se de uma pessoa sem sorte, que não atingiu o que pretendia.
Será que todos os angolanos que morrem eram pessoas que não conseguiram atingir os seus objectivos, ou aqueles que se esperava viessem a alcançar? E o seu curriculum? Tudo o que fizeram não teve êxito, não serviu para nada? Malogrado é um adjectivo que significa - que se gorou, não teve êxito, que teve um fim prematuro. Naturalmente que novo ou velho ninguém desejava aquela morte, mas porque apreciávamos aquela figura não a devemos intitular de malograda. Penso que se procura evitar a palavra falecida, por ser dura, penosa, mas preferível a malograda. Pensamos que não há necessidade de utilizar um adjectivo.
Mas voltando a uma pessoa muito conhecida e respeitada, porque não dizer no tempo da nossa querida fulana de tal? ou se era professora ou médica, utilizar a denominação da sua profissão? Tudo menos malograda, por favor, eu não quero ser uma malograda.
Não consegui concretizar todos os meus objectivos. Queria ser "rica", ter posses, ganhar o euromilhões, para poder desenvolver os meus projectos comerciais, que não passam de entidades que lutam pela sobrevivência - queria ser rica ter posses para agregar a família num espaço com todas as condições, queria ter posses para viajar mais, gozar mais a vida, numa perspectiva confortável, mas isso não me torna uma infeliz, com a vida que tenho.
Tive sucessos e malogros, quem os não teve e tem, mas não sou malograda em tudo o que realizo. Sou positiva, gosto do que faço. MAS MALOGRADA NÃO!
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